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   Fundada no dia 16 de junho de 1988 por um grupo de agitadores culturais que se preocupavam com o destino da arte e da cultura do município, a Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul tem uma atuação destacada na comunidade local.

 Atualmente, ocupa um dos pontos mais nobres da cidade. De características ecléticas que lembram o estilo do arquiteto alemão Thep Wiedersphan, que modificou a paisagem de Porto Alegre nos anos 20 e 30, o prédio, construído em 1922, chama atenção tanto por sua bela arquitetura quanto por sua importância história e urbanística. 

  Construído inicialmente para ser utilizado pelo Banco Pelotense, o prédio onde está a Casa das Artes abrigou o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) e a Exatoria Estadual até ser cedido para a Associação Pró-Cultura através de um decreto do então governador Alceu Colares, em 1994.

  No dia 3 de outubro de 1995, em homenagem à artista plástica santa-cruzense Regina Simonis, a Pró-Cultura passou a denominar sua sede de “CASA DAS ARTES REGINA SIMONIS”. 

 A Associação Pró-Cultura 

“A arte limpa da alma a poeira da vida.” 

Pablo Picasso 

Conheça Regina Simonis 

 A vida contada em quadros

  

 Hospital Ana Nery, geriatria. 

 Atrás da porta número 44, encontro um quarto cheio de pinturas nas paredes. Quadros pintados pela mesma senhora que, sentada numa cadeira de balanço, olha-me sem entender porque, mais uma vez, querem saber de sua vida. Na minha frente, Regina Simonis, 96 anos, cabelos meticulosamente arrumados, artista.

 Impossível não fixar os olhos nas  pinturas. Dois quadros, no entanto, chamam minha atenção. São os rostos, em detalhes perfeitos, de seus pais. Eles revelam  mais da vida da artista que suas próprias palavras. Repetidas vezes, Regina diz que sua história é sofrida demais para ser contada, mas, no olhar de seus pais, ela se revela.

 

 

 Choro de um bebê recém-nascido. Nasce uma das seis filhas do casal descendentes de alemães, Guilherme e Gertrudes Simonis. Linha Boa Vista, distrito da cidade de Santa Cruz do Sul, 11 de junho de 1900. O nome da menina, Regina.

 Dezessete anos depois, no quarto da irmã provincial do Colégio São José, em São Leopoldo, nasce uma outra Regina, agora, a artista.

 “Madre, eu quero aprender pintura”, e o pedido da estudante é atendido com um copo d’água, tintas e um caderninho de modelos. Regina Simonis não recebeu nenhuma aula sobre a arte de pintar.

 Amor-perfeito, o primeiro quadro: mais que o amor pela arte, foi a certeza no próprio esforço para aprender  que a fez buscar sempre mais a perfeição. A minúcia de detalhes e a beleza das telas levou a aprendiz para a cidade de Porto Alegre.

 No Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Regina Simonis desenvolve seu talento. As pinturas acadêmicas vão dos objetos às formas humanas. A natureza, a religiosidade e a tipicidade dos rostos, retratadas pela artista, levam à capital gaúcha a riqueza encontrada nas cidades do interior.

 Em 1934, a já graduada Regina sai de Porto Alegre cheia de técnicas e belas pinturas, mas “pintor é a profissão dos que morrem de fome” e Regina confirma sua fase voltando à casa de seus pais em Linha Boa Vista. 

 Interrompe-se então a vida da artista, e a filha larga os pincéis para trabalhar na roça e cuidar dos pais doentes e velhos.

 Depois da morte deles, Regina vai morar em Santa Cruz do Sul. A venda de flores e as pinturas religiosas, enviadas a Santa Maria e Porto Alegre, passam a ser sua forma de sobrevivência. “As pessoas preferem pagar por uma flor que dura poucos dias, a pagar por um quadro que é eterno”, ela nunca entendeu o valor dado às artes. Também as flores foram passageiras na vida da artista e sua pintura, uma vez mais, seria reconhecida.

 Por intermédio do sobrinho, Guido Koehler, os quadros começam a ser divulgados e vendidos. No auge do reconhecimento de suas obras é que surge a Casa das Artes Regina Simonis, destinada ao desenvolvimento e divulgação dos artistas regionais. Regina, emocionada, recebe uma placa em homenagem.

 O barulho constante do relógio nos prende a realidade. O tempo não para, mas conta histórias eternas.

 A menina de Boa Vista, a jovem artista de São Leopoldo, a formanda em Belas Artes de Porto Alegre, estão todas na minha frente, balançando ritmadamente  as lembranças desta velhinha.      

 O perfume das flores nos quadros e o  zeloso olhar dos pais estão muito vivos no quarto número 44.  A cadeira de balanço, os óculos de grossas lentes, as tintas, os pincéis e as telas, um dia não terão mais a pintora, mas seus quadros continuarão a contar histórias. Histórias da vida de Regina Simonis.

 

 

* No dia 06 de dezembro de 1993, a câmara de vereadores de Santa Cruz do Sul, confere a Regina Simonis o título de cidadã honorária desta cidade, pelos relevantes serviços prestados à comunidade.

 

** No dia 03 de outubro de 1995, a Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul, em homenagem a artista plástica Regina Simonis, passa a denominar sua sede de “Casa das Artes Regina Simonis”.

 

*** A sala Regina Simonis foi inaugurada na Casa das Artes Regina Simonis no dia 11 de junho de 1997, dia do seu aniversário. O acervo da pintora foi doado a UNISC pela Igel embalagens, estando, desde então, exposto na Casa das Artes.

Marechal Floriano, 651, centro , Santa Cruz do Sul

Autorretrato de Regina Simonis 

Telas retratando os pais da artista Regina Simonis

Diploma do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul

Casa das Artes Regina Simonis

TEXTO DA JORNALISTA ASTRID KÜHN - RIOVALE JORNAL, 31 DE AGOSTO DE 1996;

Tela da Artista Regina Simonis

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